2001,
a odisséia das artes no espaço
Designer
radicado na Holanda cria módulo com microgravidade que
deverá ser usado para levar artistas ao espaço
Francelino França
Domingo, 21 de maio de 2000
Folha de Londrina / Folha do Paraná
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artista plástico Ricky
Seabra que se apresentou no
FILO 2000 (Festival Internacional de Londrina) com o espetáculo
"De Areia e Mar"
quer conquistar o espaço, ocupando
o lado avesso ao da ciência. Sua proposta consiste em instalar
num módulo na Estação Espacial Internacional (International
Space Station ISS), um estúdio de artes de caráter
multidisciplinar.
Em entrevista exclusiva á Folha2, o designer afirma que a idéia
está sendo desenvolvida no projeto de Mestrado na Academia de
Design Industrial de Eindhoven, Holanda. A Estação Espacial
Internacional (ISS), ainda em construção se localiza a
450 km da Terra. A cada 90 minutos dá uma volta inteira em nosso
planeta. A ISS possui 100 metros de comprimento e um volume similar
ao de dois Boeings 747. O projeto abrange especificamente a arquitetura
de interior, num espaço aproximadamente de 8 x 4,5 m. De acordo
com Seabra, tudo está sendo feito dentro dos padrões estabelecidos
pela NASA.
A ISS pretende trabalhar com 7 astronautas. Seabra gostaria que uma
dupla de artistas fosse para o ISS. Nas viagens espaciais, os astronautas
sempre fazem um showzinho coreográfico, aproveitando a ausência
de gravidade. A microgravidade será um aspecto a ser explorado
dentro das artes, mas não é o único.
A primeira heureca concebida por Seabra seria a de construir um teatro
nesse módulo. Essa idéia foi amadurecendo, logo após
uma série de entrevistas com vários artistas, quando constatou
que apenas um teatro limitaria o conceito de criação fora
do nosso espaço físico. Agora, ele vislumbra nesse módulo
reservado aos artistas dois ambientes. Um será destinado à
performance, dotado de luzes, paredes especiais, amplas janelas para
dar asas à imaginação. O segundo ambiente seria
um espaço de encontro entre artistas e astronautas. Nessa viagem
arquitetônica, Seabra planeja incluir um sofá espacial
e livros revestindo o teto.
Todos que conhecem o projeto questionam Seabra; por que os artistas
precisariam ir ao espaço? Afinal, muitos viajam por aqui mesmo.
"Os músicos, poetas, cineastas, coreógrafos, escritores
vão contribuir para a exploração espacial de forma
inusitada, falar sobre nós mesmos. Há um enorme potencial
poético no espaço", acredita Seabra.
"O espaço está esperando a gente, existem profundezas
inimagináveis", prossegue. Ele argumenta que a exploração
não é competência somente da ciência. Os artistas
durante seu processo criativo, estão sempre explorando. Seabra
afirma que existem caminhos em que a ciência não pode trilhar.
Essas idéias já foram levadas à comunidade espacial,
que recebeu as propostas com rostos iluminados. Seabra esbarra na indústria
espacial excessivamente burocrata. O mestrado com essas idéias
será finalizado em 2001 (data sugestiva, sobre a odisséia
artística no espaço). Depois, Ricky Seabra assumirá
o papel de lobista, fazendo conferências para a comunidade espacial,
no intuito de aceitarem seu projeto e incluir o Módulo Isadora.
Os interessados em conhecer as idéias e contatar o designer podem
navegar no site www.rickyseabra.com/isadora.
Ou então pelo email yo@rickyseabra.com.
Quem pretender deixar a microgravidade e impulsionar o lado criativo,
Seabra avisa: "vá ser gauche no espaço".
Artista criou o projeto "Cidade na Lua"
O olhar atento para a ficção científica, aliado
ao fato de morar, quando criança, nas proximidades de um planetário,
e de ter residido por 13 anos na cidade mais intergalática do
planeta (Brasília), inspiraram o designer a fazer esboços
de uma cidade
na Lua. O projeto já tomou proporções
concretas em forma de maquete. Na verdade, segundo explica Rick Seabra,
a cidade na Lua poderá ser viável somente daqui a 100
anos ou mais.
"É inevitável que fique datado. As visões
futuristas mudam. Mas meu trabalho não é sobre design
e sim sobre diretrizes", explica. Para a fundação
dessa cidade Tranqüilidade - alguns pontos precisam ser
respeitados, na idealização de Seabra. Por exemplo, uma
pegada de um humano, ou os rastros de um caminhão, podem ficar
para sempre no solo lunar. Por isso, a necessidade de uma única
via, do local onde a nave popusa até a cidade.
"Não é um projeto visionário, mas é
ousado. Tecnologia e dinheiro existem" argumenta. A cidade da Lua
seria uma mistura entre Las Vegas, Boston e Detroit. Isso porque teria
de contemplar entretenimento, estudo e indústria. Na concepção
arquitetônica da cidade lunar, cada andar possui uma vista com
janela para um vale, proporcionando uma visão do planeta azul.
Por uma questão de sobrevivência psicológica, Seabra
imaginou cidades gêmeas, para abstrair a sensação
de estar ilhado e possibilitar uma saída para os lunáticos".
A cidade da Tranqüilidade se vale da arquitetura das favelas nos
morros cariocas, para que todos os moradores possam usufruir de uma
visão privilegiada.
Um viajante sem fronteiras
Ricky Seabra, 36 anos, tornou-se um viajante no espaço. Fincou
bandeira em diversas metrópoles, como Washington, Nova Iorque,
Brasilia, e Amsterdã. Esses espaços urbanos influenciaram
a estética e o modo de ver o mundo de Rick, que é natural
de Washington. A concepção do designer ultrapassa as barreiras
estáticas das artes plásticas e ganha movimento. Mas
faço a obra e ela se separa de mim", avalia. Uma pontinha
de inveja desponta quando vê um bailarino, que tem a oportunidade
de ser a obra.
Um dos exemplos da mobilidade visual na obra de Seabra são as
esculturas de cerâmicas
torneadas instaladas em formigueiros gigantes, comuns no cerrado brasileiro.
As formigas incorporaram a escultura ao formigueiro crescendo verticalmente
sob o jugo das formas da escultura. Daqui a 50 anos, quando o formigueiro
cumprir sua função existencial, e a rainha morrer levando
toda a colônia à finitude, se encerrará todo o processo
artístico proposto por Richard Seabra com as formas sinuosas
da cerâmica.
Ele morava em Brasília na época do golpe de Fernando Collor,
e acabou engrossando as fileiras da diáspora brasileira. Aportou
em Nova York, retocando fotos glamourizadas par a Miramax Films. Os
cartazes mais conhecidos de Seabra são dos filmes Pulp Fiction
e O Piano. O trabalho que requeria pouca criatividade o impulsionou
a buscar outros espaços, acabou desembarcando na Holanda, onde
reside e desenvolve seu projeto de Mestrado na Academia de Design Industrial
de Eindhoven.
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