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mais informação sobre "Aviões & Arranha-Céus"


Fernando Mencarelli - "Aviões & Arranha Céus" | 13/07/2007

"Quando aviões e arranha-céus eram apenas aviões e arranha-céus"


Rick Seabra esteve no FIT em 2006 com a performance “Isadora.Orb”, em que, ao lado de Andrea Jabor, explorava a relação entre a arte e o espaço não-gravitacional, a partir de sua tese de mestrado em Desenho Industrial, feita na Holanda, que ganhou projeção na Europa e nos EUA, na qual propõe a criação de um módulo espacial para abrigar artistas a bordo da Estação Espacial Internacional. Seabra foi um dos primeiros artistas residentes da NASA e sempre alimentou paixão pelos aviões e um desejo de ser astronauta.


“Aviões e Arranha-Céus” é um espetáculo de 2002, realizado um ano após a queda do World Trade Center e dirigido por sua parceira Andrea Jabor, em que a linguagem de “Isadora.Orb” já estava presente. O designer e performer busca uma forma quase artesanal de utilizar-se da tecnologia, através de colagens e sobreposição de imagens de filmes, fotos, desenhos, pinturas e objetos, projetados e manipulados ao vivo, conduzida por uma maneira de contar histórias, de forma não-dramática, que se tornou uma característica de seus trabalhos.

A tudo Rick Seabra imprime um tom de simplicidade, ressaltando a sutil presença de um olhar poético que se projeta da experiência para a cena. Sua apurada linguagem, presente também na gestualidade sintética, junta-se ao domínio do audiovisual manipulado como um cinema ao vivo, reforçando as dimensões narrativas, imagética e verbal, que se articulam com ludicidade e potência reflexiva, a serviço da exposição das camadas íntimas do imaginário e da sensibilidade do sujeito contemporâneo em meio às novas modalidades das guerras.

Como um griot performático, ele toca em nossa memória, através das perguntas sem respostas que sua perplexidade provocou e da derrisão de sua paixão futurista por “Aviões e Arranha-Céus”. Em sua original abordagem do 11 de setembro, em meio à exposição ostensiva e à tragicidade hollywoodiana que marcou a cobertura internacional do episódio, Seabra procura os sentidos que emergiram do ocorrido, constatando que algo mais entrou em colapso naquele dia. Há também a dimensão de uma arqueologia íntima e uma fina ironia no tratamento de questões emergentes no plano internacional, presentes também em seus outros espetáculos, como aqueles em que trata do destino dos exilados ou da arrogância da era Bush e seu império.

A pergunta sobre como começou o 11 de setembro o leva por diferentes hipóteses, desde a explosão na garagem do edifício, pouco tempo antes dos aviões, até uma fatal colisão de pássaros canadenses com as torres em um outro 11 de setembro. Para acompanhar a transformação da sensibilidade diante do ocorrido, o filho de pai americano e mãe brasileira, que viveu sete anos em Nova York, faz outras perguntas: o futurismo é uma grande fantasia da estupidez humana ou leva ao extremo a busca da beleza apesar do risco? Ou ainda, como depois de tantos anos perseguindo as alturas com arranha-céus, nunca ninguém pensou como tirar as pessoas acima de um incêndio? Diante dos imensos edifícios que desenhou durante anos como um hobby, e que se tornaram idéias perigosas, Seabra vislumbra
“o colapso progressivo do futurismo”.

 
A fusão entre corpo, narrativa e imagem é mais do que um recurso intermidiático na construção da linguagem da performance, revela também um sentido último do trabalho que procura traduzir criativamente a transformação da paisagem imaginária, da afecção corpórea, da experiência íntima, e ao mesmo tempo coletiva que acompanhou a queda das torres. Por isso sua força comunicativa. Os espanhóis souberam muito bem como sedimentar a conquista da América, através da destruição (ou sobreposição) dos monumentos ou construções de grande força simbólica entre os mexicas, aztecas e maias. O desaparecimento da paisagem arquitetônica sobrevive por centenas de anos e opera uma quase incontornável mudança nos indivíduos e no coletivo. A paisagem mutilada de Nova York atua permanentemente nessa dimensão, ecoando as imagens milenares destruídas pelos fundamentalistas afegãos e os tesouros sumérios dizimados na interminável guerra do Iraque. Corpos e culturas como alvos do poder e da intolerância.


O pequeno avião de papel que um dia ele lançou do alto do observatório do 110o. andar do WTC, para somar-se à revoada de aviões sobre os céus da cidade de Nova York como vaga-lumes, reaparece num vídeo caseiro que guarda a lembrança dessa primeira visita àquele que se tornou, para Seabra, um refúgio da cidade - como a subida até uma montanha. “Essa lembrança ficará sem chamas”, ele diz. Ao final da performance, o aviãozinho cruza novamente o palco com a mesma leveza com que Seabra aborda o tema. Ao erigir as torres com seus braços, imagem síntese do espetáculo, a poesia intermidiática e bem humorada de Rick Seabra e Andrea Jabor consegue tocar na delicadeza e fragilidade de nossos corpos e mentes feridos pela insanidade desses tempos de guerra.

Fernando Mencarelli



Marcos Bulhões - "Aviões e Arranha-Céus" | 13/07/2007

Solo multimídia celebra paixões, derrotas e esperanças

Logo no início do espetáculo, assistimos o narrador descrever, com brilho nos olhos, o que viu pela primeira vez há muitos anos do alto do 110º andar de uma das torres gêmeas, em Nova York. As dezenove aeronaves que recortavam o céu da metrópole naquele momento são descritas como pássaros de metal e os arranha-céus fazem o papel de montanhas. Ele nos revela que, quando precisava comemorar algum fato importante em sua vida, sempre voltava ao topo daquele prédio, para contemplar a paisagem. É sobre o novo enfoque dessa relação poética com o espaço urbano e suas máquinas voadoras, provocada pelo ataque terrorista de 11 de setembro, de que trata “Aviões e Arranha-Céus”.

Rick Seabra, que não se considera um ator, não interpreta um personagem, exerce o papel de rapsodo contemporâneo, o contador de estórias que se utiliza de diferentes meios narrativos, acumulando as funções de roteirista e editor de imagens ao vivo (VJ). Deste ponto de vista, o solo multimídia situa-se na interface entre a Performance e o Teatro e poderia se enquadrar nas modalidades de live art (arte ao vivo), na qual o artista expõe a si mesmo, utilizando-se da memória e da reflexão pessoal, ou da lecture performance, uma releitura do formato de palestra.

 
A estrutura dramatúrgica oscila entre o que Sarrazac denomina de uma épica íntima, a exposição de micro-narrativas subjetivas, e a apresentação de quadros que evocam a história coletiva. Um exemplo disto é o comentário da fotografia de mulher que se suicidou nos anos trinta e o relato do incidente dos pássaros que se chocaram contra o Empire States e foram resgatados pela população. O procedimento de colagem articula citações de obras próprias - desenhos, vídeos, projeto arquitetônico de memorial sobre o episódio histórico - e de outros artistas, que são projetadas na tela, justapostas a comentários e a intervenções cênicas que mimetizam situações vividas por ele.


A seleção dos recortes de obras de outros artistas consegue evocar habilmente aspectos do imaginário ocidental dito “futurista”. São trechos de filmes de Hollywood, como as imagens dos carros flutuando entre os arranha-céus de Los Angeles em Blade Runner, o Caçador de Andróides; as tomadas de prédios de Nova York, em O Quinto Elemento; uma cena após o incêndio de Inferno na Torre; a imagem da sombra de um avião deslizando sobre um arranha-céu, do filme publicitário do perfume Chanel n.5, dirigido por Ridley Scott nos anos 80.

 
A trilha sonora quase sempre enfatiza o lirismo da narração. A obra The New World de Dvorack, por exemplo, que está vinculada à imagem glamourosa e cosmopolita de New York, funciona como uma espécie de leitmotiv sonoro, ou tema recorrente. Em outros momentos, a música proporciona um efeito de estranhamento que nos provoca a reflexão. É o caso do uso irônico do hino nacional americano ou da citação da trilha de abertura do programa de David Letherman, da década de 1980, tocada em baixa rotação, enquanto assistimos no telão a entrada da câmera pela janela do World Trade Center, pelo mesmo ângulo que entrou o segundo avião no fatídico ataque.


Uma profusão de desenhos, cartões postais, fotos e miniaturas são manipulados pelo narrador de forma a revelar os segredos técnicos da produção das imagens que são lançadas na tela de fundo do palco através de um retro-projetor digital. Seabra vive o papel de um artesão que brinca com a noção de um cinema ao vivo. A opção de mostrar o processo artesanal na produção de desenhos ou na edição das imagens pré-gravadas, via uso da mesa de corte digital, configura uma atitude de jogo que desmistifica a própria projeção. A substituição do efeito de ‘zoom digital’ pela aproximação da câmera de forma manual, o deslocamento da câmera na mão do ator, são outros exemplos dessa atitude de despojamento. Em nenhum momento a encenação apela para o uso de imagens das vítimas, poupando o espectador já saturado pela versão veiculada pela televisão.


A minuciosa partitura das ações executadas com tranqüilidade e atitude despretensiosa foi organizada pela diretora Andrea Jabor. O prolongamento na duração de algumas ações faz a cena escapar da representação cotidiana e contribui para adensar a natureza poética do gesto. O espaço cênico é funcional, às vezes, recortando com a luz a intimidade da criação de um artista, às vezes, permitindo a interação entre o corpo do solista e as imagens projetadas. O jogo simbólico com objetos do cotidiano - talheres, miçangas, lápis de cor, aviões de papel – reforça a atmosfera de sutileza, reflexão e humor que se manteve do início ao fim.


O roteiro instiga o espectador a ser um parceiro do trabalho, dialogando com seu próprio repertório imagético sobre os eventos recordados. Não se pretende o esclarecimento do público para uma tese definitiva sobre os fatos históricos. Na única referência política direta - a apresentação de bonecos de Bush, Sadam e Bin Laden - o tom adotado é o da brincadeira e o narrador não toma partido, nem aprofunda a discussão. Uma outra leitura deste trabalho poderia cobrar a falta de uma visão dialética na abordagem histórica, reclamando que a cena não mostra os dois lados da questão do terrorismo, ignorando o ponto de vista dos islamitas, etc. Esta cobrança não teria sentido, pois a proposta do espetáculo não é dar conta da revisão da história, mas compartilhar uma visão pessoal.

 
Para Seabra, o acontecimento de 11 de setembro foi usurpado pelo poder religioso e político e não tivemos tempo para pensar. O espetáculo cumpre o objetivo de questionar como a nossa memória pode ser afetada, manipulada e reconstruída pelos meios de comunicação. Ele não apela para a demagogia, não tenta “apaziguar o sentimento anti-americano”. A queda das torres pode ser vista como um símbolo da derrota do humano, da derrota da invenção arquitetônica, do sonho futurista. Porém, sem resvalar para o pessimismo ou o cinismo pós-moderno, o artista tem a coragem de manifestar sua esperança em um projeto de humanidade, como diria Saramago. Esperança talvez ingênua ou delirante, mas que nos faz sair deste prazeroso e inteligente encontro com este rapsodo multimídia, melhor do que entramos.

 
Leitor Crítico: Marcos Bulhões

Espetáculo: “Aviões & Arranha-Céus”


25 de junho 2004 - O Público (Suplemento Y) Portugal
teatro | aviões e arranha-céus

Onde é que estava no 11 de setembro?

Ricky Seabra, metade brasileiro, metade americano, interpreta Aviões e Arranha-Céus, na Culturgest, Lisboa 2a e 3a feira. É um monólogo sobre o 11 de Setembro de alguém que é fascinado por aviões e arranha-céus.
Joana Gorjão Henriques

Quando vivia em Nova Iorque o designer e performer Ricky Seabra subia várias vezes ao 110° andar do World Trade Center onde funcionava um observatório. Sempre que conseguia novo emprego, novo cliente, sempre que acontecia alguma coisa boa na sua vida, Ricky Seabra não abria garrafas de champanhe. Sentava-se "lá em cima e olhava a cidade".

"Agradecia. Pode-se dizer que rezava. Era um lugar no céu mas como se fosse uma montaha. Ia buscar o refúgio dentro da cidade", diz Ricky ao Y por telefone.

A 11 de Setembro de 2001, Ricky Seabra (brasileiro e americano, nascido em Washington) não estava em Nova Iorque mas em Amsterdão, onde vive há oito anos. Como a maioria das pessoas , viu as imagens pela televisão. Quando regressou à cidade dias depois dos atentados, ainda havia fumo no ar. "A cidade tornou-se líquida, já não era sólida nem segura. A mutilação do 'skyline' foi muito dramática e a sensação era que uma parte do corpo tinha sido amputada. Admito que até nos Estados Unidos há pessoas que não percebem o impacto que teve nos nova-iorquinos. O World Trade Center era uma bússola."

Ricky Seabra "chorou muito" o 11 de Setembro. Diz mesmo que depois da morte do pai nunca tinha sentido uma "tristeza tão grande". "A tristeza não passava. Acho que fiquei oito meses deprimido. Naturalmente, comecei a escrever sobre o assunto."Aliás, durante anos sonhava com o pai, mas sempre em situações angustiantes - "com ele morrentdo" - e a primeira vez que o pai apareceu "bem" nos seus sonhos cantava de dançava no World Trade Center.

sem sentimentalismo. Assim nasceu "Airplanes and Skyscrapers", "Aviões e Arranha-Céus", um especteaculo que o performer interpreta na Culturgest, segunda e terça-feira, dirigido pela coreógrafa brasileira Andrea Jabor, sua companheira de trabalho há uma década. Em Lisboa vai interpretar pela primeira vez o espectáculo em português.

Licenciado na Parsons School of Design de Nova Iorque, onde viveu sete anos, Seabra, que não é actor, tem escrito e interpretado performances em vários teatros europeus (o seu último espectáculo foi "Isadora.Orb, A Metáfora Final").

"Aviões e Arranha-Céus é um espectáculo sobre o 11 de Setembro de Ricky Seabra. Há referências políticas - estão George W. Bush, Saddam Hussein e Osama bin Laden -, mas é sobretudo uma obra onde se desfiam memórias, pessoais e colectivas, em vários registos e onde predomina o tom confessional, melancólico, com interlúdios de humor, ironia lirismo, poesia.

Misturando manipulação de objectos num jogo que vai sendo filmado e projectado num ecrã, intercalado com imagens de filmes, anúncios ou excertos de telejornais, falando directamente para o público como se desse uma palestra, Seabra não faz referência àquela tristeza de que falava porque isso o emociona demais. E ele não quer que o espectáculo seja sentimental. Também não quer "apaziguar o sentimento anti-americano".

A intenção é mostrar porque é que naquele dia toda a gente sentiu um impacto muito profundo. E uma coisa que tento mostrar é que não teve só impacto político e religioso. O 11 de Setembro foi usurpado pelo poder religioso e político e nós não tivemos tempo para pensar. No fundo, é um espectáculo sobre como a memória pode ser afectada, manipulada e reconstruída no contexto do 11 de Setembro."

O que é comovente neste espectáculo é a forma como Ricky Seabra, com o seu olhar pessoalíssimo, o seu fascínio por aviões e arranha-céus, humaniza os acontecimentos trágicos do dia que mudou o mundo sem nunca transformar o espectáculo num somatório cronológico de factos, sem fazer demagogia sobre o assunto e estimulando o espectador a reviver o seu próprio 11 de Setembro. É inevitável lembrarmo-nos onde estavamos nesse dia que, por exemplo, para muitos portugueses que nasceram em ou pós 1974, substitui o "onde estava no 25 de Abril" das gerações que viveram a revolução.

fim do futurismo. Para Ricky Seabra, 40 anos, foi o fima daquilo que ele chama o futurismo, algo qeu encarava como a natrual "evolução da espécie. "Com a queda das torres, a visão futurista entrou em colapso e não sei atee que ponto é que essa visão pode ser reconstruida e se já foi reposta. Não sei se a guerra ao terrorismo faz a nossa geracão ter uma visão mais apocalíptica." Chama à sua geração "geração Blade Runner", com arranha-céus "penetrando as nuvens e aviões a circular no ar". "Achávamos que íamos para o espaço, que um dia os carros iam voar, que habitaríamos no céu."

De resto, foi desde sempre fascinado por aviões e arranha-céus, tanto que a sua primeira série de obras de arte é centrada em aviões. "Em Brasília tornei-me no artista dos aviões", diz. "Sou o tipo de pessoa que para nos aeroportos para ver aviões a aterrar e descolar. Sempre tive uma relação de admiração e medo, amor-ódio. Como sou metade americano e brasileiro, o avião era o meio que me ligava e separava dos dois países."

A arquitectura sempre fez parte da sua vida - morou oito anos em Brasília, "uma cidade futurista" - mas foi em Nova Iorque que apareceu o fascínio pelos arranha-céus. "A arquitectura não era mais monumental, era espectacular. E sempre gostei de projectar e desenhar mega arranha-céus, mesmo como 'hobbie'. Durante anos a temática era aviões e arranha-céus, o molde futurista do começo do século, essa visão 'Metropolis' (o filme de Fritz Lang) do mundo".

Depois há o "glamour" em tempos associado aos arranha-céus e aviões, imagem veiculada pela publicidade - no especteaculo usa um anúncio clássico do perfume Chanel n° 5. "Transmite uma ideia bem 'yuppie', com a paisagem urbana e a ideia de viajar pelo mundo. Hoje não há coisa menos 'glamorosa' do que viajar, é uma humilhação. Em Washington tem que se tirar os sapatos, é uma confusão de roupa, tem que se passar pelo raio X. Imagine a Bette Davis com salto alto e chapéu tirando o sapato... Não há mais associação de viajar com 'glamour'. Esse tempo acabou."

o arqueólogo de si. Quando vivia em Manhattan, Seabra ia várias vezes à bibleoteca municipal ler coisas sobre a cidade e coleccionava notas - hábito que faz com que tenha milhares de cadernos, onde escreve ideias que por vezes lhe aparecem a meio da noite. "Gosto de me chamar de arqueólogo de mim mesmo. Crio muitos arquivos. Digo que noutra encarnação era um burocrata soviético..." Um dia, já tinha estreado "Aviões e Arranha-Céus, Ricky Seabra lembrou-se de uma dessas informações que anotara no seu caderno sobre pássaros migratórios que chocaram contra o Empire State Building. Levantou-se da cama a pensar - já sei onde está" - , descobriu a frase e eis a data desse acontencimento: 11 de Setembro de 1948. Mais do que outras hipóteses que lança no espectáculo (o primeiro ataque às Torres Gémeas ou o dia em que os americanos instalaram uma base aérea na Arábia Saudita, mais do que a própria data em si, o 11 de Setembro de Ricky Seabra começa nesse encontro entre o Emprie State Building, uma "interferência com o céu", e os pássaros, "que circulam e têm direito ao céu".

Nascido em Washington mas criado no Brasil, este filho de pai português - o bisavô era Ricardo Jorge, o médico e humanista que fundou o Instituto que hoje tem o seu nome - diz que faz parte "das milhões de pessoas" que saíram do Brasil quando Fernando Collor de Melo estava na presidência (Seabra saiu em 1992). Agora, ao fim de 12 anos, vai mudar-se, parcialmente, para o Brasil ("estou farto do frio e quero falar português, vou dividir a minha vida entre Brasil e Holanda".

Gosta muito de Nova Iorque mas o regresso definitivo não está nos seus planos. "Visito várias vezes Nova Iorque. Mas acho que a cidade já deu o que tinha para me dar. Não tem nada a ver com os ataques. É engraçado: a primeira vez que voltei a Nova Iorque olhei muito para o céu. Da última vez evitei olhar para sul, para o buraco no céu. Não quero lembrar-me de Manhattan assim. Quando sonho com a cidade ainda está lá o World Trade Center e eu não quero que outra imagem se sobreponha."



Aviões e arranha-céus
Conferencia-espetctaculo, memoria de setmbro 2001
ELISABETE FRANA
28 de junho, 2004

na Culturgest, em Lisboa, pode ver-se, esta noite e na proxima, Avioes e arranha-dceus, texto, conceptcao e actuacao de RICKY SEABRA, onde é evocado o 11 de Setembro.

No dia 11 de Setembro de 2001, Ricky Seabra estava em Amesterdão. Quando olhou para o ecrã do televisor e viu as torres gêmeas de Nova Iorque caindo, ficou umas 18 horas pregado à TV. "Foi a mutilação duma cidade que considero casa", diz ao DN, em breve conversa telefónica, a propósito da performance que apresenta hoje e amanhã em Lisboa: Aviões e Arranha-Céus, criação multimídia, que concebeu e interpreta (pela primeira vez em português), com encenação de Andrea Jabor (na Culturgest, às 21.30).

Formalmente idéntico a Vou l Visitar Pastores - que Manuel Wiborg estreou há pouco, também na Culturgest (e no FITEI) -, Aviões e Arranha-Céus é uma conferência-espectáculo, formato que costuma ter objectivo didáctico. Não foi esse, todavia, o propósito de Ricky Seabra: "Acho que escolhi esta forma para ser claro. Na arte contemporânea, existe muito cruzamento de linguagens, que acabam alienando. A intenção era contar uma história, comunicar o que significavam aqueles arranha-céus para a gente antes do ataque e, para isso, recorri a todos os meios que me pareceram necessários, desde mostrar as minhas mãos no ecrã, até uma propaganda da Chanel. É quase uma exposição do meu processo criativo diante do público - grande parte da poesia duma imagem vem da sua origem, uma coisa é mostrá-la e outra é desenhá-la na sua frente."

Durante a performance, Ricky Seabra recorda a sua chegada a Nova Iorque, ao som duma canção de Petula Clark (Downtown), a primeira visita que fez ao World Trade Center ou as suas permanncias no observatório ali existente, a mais de 400 metros de altitude, a admirar os bairros da cidade e dezenas de aviões a cruzarem os ares, tendo descolado ou indo aterrar no Aeroporto JFK. Pelo ecrã ao fundo do palco, passam imagens de arquivo, umas de filmes nesse cenário (com Paul Newman ou Fred Astaire e Ginger Rogers, ou o carro voador de Blade Runner entre arranha-céus), outras de telenoticiários. Mas o artista excluiu imagens dos atentados, que seriam óbvias. "Queria ser fiel à construção duma imagem poética e não mostrar imagens próprias dum documentário. Queria falar das pessoas, para quem o atentado foi mais do que o significado dado por dirigentes militares, políticos e religiosos", acentua. "A mutilação duma cidade que considero casa", eis como sentiu aquele 'mais'. "No próprio dia, a emoção do mundo era mais auténtica do que o que se seguiu", defende.

Outro motivo para não mostrar imagens da catástrofe, explica, foi ter decidido falar "de criação, num espectáculo motivado por uma destruição", para "não ficar uma obra lúgubre, desesperançosa", com a qual não se identificaria. Aliás, no registo em vídeo de Aviões e Arranha-Céus que visionamos (gravado no Theater Bellevue, Amesterdão, 17 de Março de 2003, horas antes do início da guerra no Iraque), pudemos observar que, perto do fim, mencionado o Ground Zero, no regresso a Nova Iorque pós-11 de Setembro, se vê um projecto de memorial que consistiria num miradouro com painéis espelhados, para olhar o céu e os aviões. E isso, para o autor - "apesar da sensação de fragilidade, duma cidade que se imaginava sólida e afinal pode desmoronar-se" - representa reconstrução e celebração, da memória e da audácia do tempo em que se construíam aqueles edifícios, o que também quer dizer que as coisas podem fazer-se de novo.

Motivação mais remota para este trabalho seria, à partida, a atracção de Ricky Seabra por aviões e arranha-céus. Os primeiros ligam-se ao seu "desejo de voar, que sempre foi muito grande" os segundos ao fascínio da arquitectura, nascido em cidades como Brasília e Nova Iorque, onde residiu.

PERFIL: Ricky Seabra 'Designer' e ' Performer'

Um americano de origem lusa

Ricky Seabra , 40 anos, é bilinge, em ingles e portugues. Nascido em Washington, de mae brasileira e pai portugues, so aprendeu a lingua patenra na escola, a parter dos 11 anos (a familia mudara se para brasilia). mas sempre ourira flara em casa . Aos 19 anos, voltou aos EUA, formou-se na Parsons School of Deisgne de Nova Iotuqe e comecou a trabalhar como grafico. vive ha oito anos na Holanda, onde fez um mestrado. Desde 1991, cirador de espetaculos multidisilinares, sobretudo em pareceria com a coreografa brasileira andrea jabor.



Maos gemeas abalroadas por avioes

combinada de palestra e filme, de trabalho de artesao manipulador de formas, esta e uma original perfomance em torno do 11 de Setembro.

Raquel gomes Freire

Ricky SEabra é um brasileiro-americano que nasceu em Washnington e cresceu em Brasilia. Formado na Parsons School of Design de Nova Iorque, tem um mestrado em Design da Acadmeia de Design de eindhoven, na Holanda, onde viveu no ultimos 8 anos. Trabalhou como artista e designer desde 1987 no Brasil, nos EUA e na Europa, colaborando com coreograofs no Brasil e na Holanda. Actualmente escreve e apresenta monologos em teatros da Europa.

Airpalnes & Skyscrapers, um monologo manipulado" o seu ultimo espectacuolo, sera apresentado na Culturgest no prosimos dias 28 e 29 de Junho, pelas 21h30, no Palco do grande Auditorio.

Combinacao de paelstra e filme, de trabalho de artesao manipluador de formas, esta e uma original perfomance em torno do 11 de setembro, as mudanca fisicas e psicologicas e do quanto nos afectou todos e, em particular , aos habitatnes de Nova Iorque. A cidade nao mais sera a mesma, nem o mundo , nem ninguem.

Neste espectaculo jogo-se com tudo isto e "tambem com asm memoria e dde como as podemos manipular" explica o autor.

 



Críticas jornal: NOORD HOLLANDS DAGBLAD
data de publicao: 10-02-2003
Autor: KOTTMANN, HANS
Traduzido do holandes

Um olhar comovente do "11 de setembro"

"Quando comeou o 11 de setembro?", pergunta o designer e performer Ricky Seabra no seu interessante e tocante "Aviões e Arranha-Céus". Ele continua utilizando um retroprojetor digital e imagens de video mostrando algumas respostas interessantes. Como o primeiro ataque na garagem do World Trade Center, o filme "Inferno na Torre" de 1974 ou um incidente bizarro em 1948 quando uma revoada gignatesca de passaros canadenses em sua tradicional migração para o sul colidem com o edifcio Empire State.

Seabra estudou em Nova Iorque e Eindhoven, colaborando em produções de dança como artista e designer no Brasil, EEUU e Europa e desenhou cartazes para filmes como Pulp Fiction e o Piano. Ele ganhou reconhecimento internacional pelo seu conceito para um módulo espacial para artistas e cientistas sociais. No seu projeto multimidia, Seabra compartilha idéias, conhecimento, lembranças e sentimentos. Ele mostra com alegria desenhos de construções gigantescas em cima de arranha-céus. Você sabia, por exemplo, que o topo do Edifício Empire State era para ser uma plataforma de pouso para zepelins?

No 11 de setembro ele já morava na Holanda, mas revela que conhece as Torres Gmeas como a palma da mão. Com palavras e imagens poéticas ele mostra o seu primeiro encontro com as torres 20 anos atras. Do observatório no 110° andar ele viu nada mais que 19 aviões suspensas como vagalumes no ar. Ele tambem viu um por do sol de tirar o folego cuja luz vinha das poluição e fábricas de New Jersey.

A escolha de música é historicamente bem pensada e bem amarrada com o assunto. De Petula Clark e Fleetwood Mac ao hino nacional americano. O que faz desta palestra audio-visual agradavel é que em nemhum momento ele fica fora do nosso alcance. Seabra tambem prova que algumas medidas de segurança em aviões são ridiculas e da um engraçado mini-curso de "auto-defesa contra terroristas" dando como exemplo prático o terrorista que tentou dinamitar os seus sapatos abordo de uma avião meses após o 11 de setembro.

No final da peça ele não exige apenas um memorial para as vítimas e o corpo de bombeiros mas especialmente uma maneira de lembrar o colosso e imagem imponente das Torres Gêmeas. Uma imagem que ele recria de forma impressionante refletida em espelhos. Ao fazer isto ele devolve ao mundo um gigante símbolo que tristemente está ausente.



Impressão artística pessoal

'Nine-eleven" pelos olhos de Ricky Seabra

jornal: Brabants Dagblad Ed. Tilburg
data de publicação: 3 de março, 2003, Pagina: 6
traduzido do holandes

No 110° andar do World Trade Center ficava a plataforma de observação. Ali a metropole ficava aos seus pés enquanto aviões distantes pairavam no ar. Para o brasileiro-americano Ricky Seabra aquele ponto significava pura felicidade durante a sua estadia lá nos anos 80. Era estudante de comunicação visual e obsecado com tudo que tinha a ver com o espaço, especialmente não se cansava de olhar aviões e arranha-Céus. O desastre de setembro 2001 o atingiu no coração apesar de estar morando em Amsterdam.

Um ano depois Seabra transformou so seu choque numa impressão artístico muito pessoal. Ele manipula filme e video para criar uma imagem do que se passa dentro dele de forma impressionante e altamente criativo. Para ele, a projeção de seus dois antebraos num telão é o suficiente para reproduzir a imagem das torres caindo. Ele conta a suas próprias histrias de como deitava no chão para olhar os dois colossos. Como o elevador deslisava para o topo de Nova Iorque e como depois do 11 de setembro quase nada mudou e os riscos continuam enormes. Ele demonstra quo maravilhoso é o desenvolvimento tecnológico e o quão vulnerá'vel este nos torna.

O que o performer Ricky Seabra consegue bem nos fazer sentir é que, neste desastroso dia, muito mais que o colapso de um par de torres aconteceu. Com imagens belas e originais, este In Memoriam mostra que o pensamento progressista recebeu um baque desnorteador que será sentinda por muito tempo ainda. A felicidade e inocncia dos velhos filmes foi reposto pelo medo e confusáo. E levará um bom tempo até que estas sensações passem.



www.moose.nl (um site de críticas de teatro holandês)

Aviões e Arranha-Céus

"Uma linda história sobre memórias de aviões e arranha-céus que precisam achar um novo lugar depois dos ataques do onze de setembro. Uma combinação de palestra e filme, artesão e contador de histórias. Simples, forte, sem reclamações e direto ao coração. Vá ver. É de verdade uma pequena jóia na inundação de documentários sobre o 11 de setembro."



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yo@rickyseabra.com

 

 

 

 

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"Uma linda história sobre memórias de avies e arranha-céus que precisam achar um novo lugar depois dos ataques do onze de setembro. Uma combinação de palestra e filme, artesão e contador de histórias. Simples, forte, sem reclamações e direto ao coração. Vá ver. É de verdade uma pequena jóia na inundação de documentários sobre o 11 de setembro."



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